SONHO: mochilão na Europa (França, Itália, Alemanha e Portugal) AMIZADE: Camila Deufel (fortalecida) e Vanda Lucas (conquistada) LUGAR: Miradouro de Santa Luzia (Lisboa), Torre Eiffel (Paris), Bosque del Recuerdo (Madrid) e o quintal da casa da minha mãe (Vila Progresso, Vera Cruz) BEBIDA: Vinho do Porto, café cheio em qualquer cafetaria lisboeta, shot de whisky bebido de olhos fechados com o Vinícius e chimarrão COMIDA: pastel de nata depois do almoço, bacalhau com natas e feijoada com samba na Toca do Cachorrão TRISTEZA: sentir saudades DOR: depressão pós-Erasmus SURPRESA: todas as boas pessoas que conheci neste mundo ARREPENDIMENTO: das palavras não ditas MÚSICA: sambas tocados pelo Cinco em Prosa, Um girassol da cor do seu cabelo (Lô Borges) e No rain (Blind Melon) DANÇA: chorinho da Roda de Choro de Lisboa dançado com o Rui Nunes FRASE:"Tudo vale a pena se a alma não é pequena." (Fernando Pessoa) ROUPA: saia rodada, casaquinho de malha, melissa azul, brinco de pérola INESQUECÍVEL: todas as lua cheias que vi e que quis que minha mãe estivesse ali comigo e todos os pores-do-sol que presenciei e senti a presença de Deus acalmando meu coração LEMBRANÇA: noites no Bairro Alto
DIFICULDADE: estar sozinha
SAUDADE: de pessoas e de lugares PALAVRA: acreditar FICA EM 2011: os erros e arrependimentos
VAI PARA 2012: a minha poesia de viver e o desejo de estar com a pessoa especial que do sonho se tornou real.
Hoje vou me prestar a postar algo copiado. Copiado por ser tão simples, tão verdadeiro... Palavras daquele que escreve sobre estas coisas de amor e que sempre tem alguma frase ou texto pra qualquer momento sentimentalista: Caio Fernando Abreu
“Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa. Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera. Estranho é que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é? A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas? A moça…ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar. Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera? E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”
Kátia Gazzola Viana, uma psicóloga iluminada pela sensibilidade, pela vida e pela morte, disse algo tão verdadeiro que me tocou pela simplicidade:
“Somos como árvores, precisamos ser podadas. E as perdas são como podas, que fazem com que cresçamos com mais força e vitalidade.”
Uma metáfora perfeita, digna de reflexão.
Acredito que seja assim mesmo. As perdas e as podas, por mais dolorosas que sejam, são superáveis. E a superação está intimamente ligada ao tempo. O ditado popular que diz que tempo é o melhor remédio, que cura tudo, confirma isso.
Deixar o tempo passar talvez seja o grande desafio.
Conseguir olhar para o tempo que passou e perceber significados e aprendizados e sentir motivação, eu diria que é o sinal de que a poda fez efeito e que o que começa a nascer novamente é muito mais forte e verdadeiro.
Permita-se ser podado e cultive tudo que há de novo em você!
Nesta última semana percebi que algo realmente mudou. Depois de dois meses passando por um período de mudanças, estranhamentos, reencontros, desencontros e um sentimento muito forte de perda e de saudade, senti que era hora de ultrapassar isso. Era hora de encarar minha nova velha vida, encarar minha nova realidade. Era hora de ressignificar sentimentos e valores e me reencontrar neste lugar que eu me sentia perdida.
Dia 21, dois meses longe de Lisboa. Dois meses de Brasil, de Rio Grande do Sul, de Santa Cruz do Sul, de Vera Cruz, de Vila Progresso, de mãe, pai e irmãs. Dia 22, num breve papo por mensagem de celular, comuniquei minha amiga portuguesa Vandinha: "Agora tudo vai melhorar. Eu sei que vai. Não nasci pra ficar sofrendo. O mundo me espera." Acho que foi meu primeiro pensamento positivo nestes últimos tempos. Dia 23, início da primavera, início de um novo ciclo. O pensamento positivo surtiu efeito. Recebi a notícia de que fui selecionada para trabalhar na Ouvidoria do Hospital Santa Cruz, após passar por várias etapas. Esforços recompensados. Fiquei super feliz, pois pressinto muitas aprendizagens. Dia 24, retornei ao grupo de jovens da minha Igreja Evangélica Luterana do Brasil, que eu sempre participe. Senti paz no coração! Dia 25, tomei um chimarrão tão gostoso com minhas manas Lovisa e Larissa. E percebi que minhas pequenas cresceram e que temos muito mais coisas parecidas do que nós mesmo imaginamos. Dia 26, acordei cedo. Visitei minha tia Noni, minha ex-babá mais que especial. Senti que Vila Progresso florida de orquídeas é muito mais linda. E que parte do meu coração está lá. Coração e raízes. À noite, me deparei com o livro da minha amiga Di, "Por que os homens se apaixonam por mulheres poderosas?" e me identifiquei com coisas que preciso mudar e coisas que já mudei. Amor, sexo, poder. Tanta coisa para aprender. E lembrei de uma frase que disse naquele mesmo dia para a Vandinha: "Meu coração tá fechado pra balanço. Só quero perto de mim pessoas que me fazem bem". E isso, simplesmente, justifica eu querer me afastar de certas pessoas. Hoje, dia 27, resolvi telefonar para ele, um mineiro especial que balançou meu coração em terras distantes. E que certamente ficou com um pedacinho de mim, apesar de eu ter lhe entregado muito mais que um pedacinho. Quando desliguei o telefone, senti felicidade. Não tive crise de choro, como da outra vez. Felicidade por ter ouvido a voz dele e não chorar. Felicidade por sentir saudade e não sofrer. Felicidade por lembrar dos nossos momentos e ter certeza que eles ficarão lá, guardadinhos na memória e na minha história. Felicidade por, no final da ligação, eu me dar conta de algo que falei e que marca o meu momento atual: "AGORA EU ESTOU BEM!"
E agora é isto: HORA DE ESTAR BEM!
Bom é isso, seguir em frente e ver que os caminhos percorridos valeram a pena. Que ficaram boas lembranças, pegadas e vidas marcadas.
Era uma uma festa como todas as outras, se não fosse a primeira tragada no cigarro, o porre e aquele cara. Seria um cara normal, como todos os outros até então, se não fosse o olhar cruzado e frase dita: 'eu te conheço de algum lugar!'
Para ela, um desconhecido... para ele, alguém de outra vida.
Com palavras e atitudes, ele a conquistou. Como num conto de fadas, ela foi conquistada.
Ele sabia das palavras certas, das coisas certas, das piadas certas. Ele sabia como agradar uma mulher.
Ela simples, frágil, de peito aberto e coração em chamas, apaixonou-se. Envolveu-se. Não da mesma forma que ele.
O fogo e o sexo eram os melhores, juntavam aqueles corpos que queimavam em desejo. Ela entregava-se por inteiro. Mas ele, ela não sabia.
Dela, faltou as perguntas, os questionamentos, os esclarecimentos. E sobrou a confiança, o envolvimento e todas aquelas coisas de menina apaixonada.
Dele, não se sabe o que faltou ou o que sobrou. Dele, não se sabe quase nada. Dele, não se sabe o que foi verdadeiro, o que foi sentido, o que foi tocado.
Ela acreditou que aquilo que vivia ia para além do explicável, que era coisa de outra vida, que tinha encontrado a pessoa com quem sempre sonhou, que tudo o que já tinha ouvido sobre as paixões eram exatamente o que estava sentindo.
Quando ela recebeu aquele e-mail: 'preciso dos teus beijos e do teu abraço com urgência', era como se naquele momento o mundo era apenas os dois e que os minutos insistiam em demorar a passar para que pudessem compartilhar daqueles beijos e abraços pelos quais ele tanto esperava.
As mensagens de saudade, os carinhos, os silêncios, as risadas.
O bilhete que ela colou no espelho do quarto dele com o verso da música do Nenhum de Nós que marcava o momento e lembrava do show que assistiram juntos:
"Quando te vejo espero teu beijo,
Não sinto vergonha, apenas desejo."
A necessidade de viver o momento, pois ele não cansava de lembrá-la que 'nada é para sempre'. E ela ainda acreditava no 'para sempre' e queria vivê-lo intensamente, já que "o para sempre, sempre acaba".
Para o aniversário dele, um cd com as músicas preferidas, as mais lindas e especiais, que fizeram parte do repertório dos passeios e dias seguintes.
O aniversário que ficou marcado pelas lágrimas e pelas palavras que dele ela ouviu: 'você tem sido muito importante para mim!'
Ela já imaginava o futuro, os dias e meses seguintes, uma vida ao lado daquele que despertou a paixão e os sentimentos mais verdadeiros.
Era tão bom e tão intenso para tão pouco tempo.
Um mês. Outubro.
O exato tempo para se entregar a alguém.
Mais do que um mês, 33 dias. Como no filme Ironias do Amor, assistido na última noite juntos. Quando ele já não estava junto dela. As ironias do destino e dos 33 dias felizes que viveram. Que viveram? Ou ela viveu?
A partir do 34º dia são apenas dúvidas e incertezas.
Como pode ele decidir sair da vida dela de um dia para o outro? Sem dar nenhum sinal prévio? Deixando um coração despedaçado?
A música preferida dele parecia expressar toda sua mudança, toda sua retirada, toda sua frieza no mês de novembro.
"Cause nothing lasts forever
And we both know hearts can change
And it's hard to hold a candle
In the cold november rain"
Para ela, é o fim da sua maior paixão. De um quase amor. De uma companhia perfeita.
Para ele, ninguém vai saber.
Alguém saberia dizer o que houve com ele? Onde ele está? Com quem ele está?
Ele preferiu se afastar totalmente dela... não dando chances para conversas... banindo qualquer tipo de aproximação.
Ela preferiu sofrer sozinha... passar meses e meses chorando e lembrando dele... se entregar à relações erradas e passageiras... buscar alívio onde ela só achava mais sofrimento... fechar seu coração e abrir apenas seu corpo. Ela não o procurou. Ela fez tudo errado.
Ou talvez tudo certo... afinal, mendigar o sentimento e o amor de alguém nunca fez parte de suas atitudes.
O que ela mais queria era uma última conversa, um último beijo, uma última resposta... ou nada que fosse último. Queria um recomeço, uma chance... qualquer coisa que viesse dele. Menos um adeus.
O tempo passava e parecia que a dor daquele quase amor nunca se curaria.
Ela resolveu ir embora, mudar de ares, arriscar, recomeçar... em outro lugar, longe daquela pequena cidade.
E antes dela ir, as ironias do destino aparecem... ela verifica um e-mail antigo, não acessado a mais de dois meses, vê uma mensagem dele, daquele mesmo dia. Ela respondeu e houve um encontro.
O encontro para uma conversa, para ele pedir desculpas e tentar explicar o que aconteceu, para ela tentar entender as explicações, para terminarem na mesma cama, para acabar com o sofrimento.
Pronto. Ela podia partir para terras distante. Em paz com seu coração. Com algumas poucas respostas, com muitas outras dúvidas, mas com uma sensação de que tudo tinha se resolvido. E que ele continuava sendo o homem dos sonhos, a pessoa que se ela pudesse, escolheria para passar sua vida ao lado. Tudo e nada tinha mudado.
Mais um reencontro antes da partida. Uma noite fria, mas com muito calor entre os dois. Falaram sobre tudo, menos sobre sentimentos e sobre o passado. Apenas sobre o futuro dela em um lugar distante.
Parecia o fim.
Ela estava lá, longe.
Viveu a sua melhor e mais intensa experiência de vida até então. Se apaixonou por lugares e por pessoas. Ele não tinha mais espaço em seus pensamentos.
Quando era hora de voltar, por ironia do destino e por circunstâncias foras do planejado, quem se dispôs à buscá-la no aeroporto foi ele.
Para ela, ir embora do lugar que a fez tão feliz era motivo de tristeza, mas chegar à sua terra sabendo que quem estaria à esperando era ele só a deixava feliz. A primeira pessoa a encontrá-la. O primeiro 'bem-vinda', a primeira noite, o recomeçar... ele estaria presente no seu recomeçar.
Coração saltitando, palavras engasgadas... o cansaço físico de uma longa viagem que fez-se desaparecer com a expectativa daquele reencontro. E lá estava ele, visivelmente ansioso e sem saber como ela estaria, como ela voltaria, como seria.
O abraço, o beijo, as histórias contadas por ela, o jantar, o vinho, a cama, o aconchego, o bom dia, o almoço, a companhia. Tudo... menos falar sobre sentimentos, sobre o futuro deles, sobre eles. Novamente, se repetia.
O mais bonito que ela ouviu: 'foi bom te ver!'
Para ela, ele era o cara.
Ele continuaria sendo para sempre o escolhido.
Para sempre, o homem dos seus sonhos.
Ele parecia o mesmo daquele mês de outubro, onde tudo parecia perfeito (mas não era).
E ela, o que era para ele?
E agora, como seria conviver com este reencontro marcado na memória? Um reencontro tão especial para ela, mas que não tinha deixado nenhuma expectativa ou possibilidade para um próximo?
Esperar o destino agir com suas ironias?
O segundo outubro depois daquele se aproxima... e as lembranças vem à tona. E elas já não podem mais causar sofrimento. É hora de deixar de lado tudo aquilo que não lhe faz bem. É hora de recomeçar. De florir, como a primavera.
Ontem, ela pensou nele.
Hoje, ela decidiu esquecê-lo.
Amanhã, ela não sabe.
Para ela, eu diria:
Nem a vida nem o mundo param para que você se recomponha.
Você precisa aprender a curar suas feridas sem que, com isso, deixe de viver.
Há um mundo à frente dos seus olhos.
Há um mundo à frente dos seus pés e suas mãos.
Há pessoas esperando por você.
Vá.
E deixe que o destino se encarregue, com suas ironias, de decidir o final desta história de um quase amor.
O ombro dele, onde repouso minha cabeça para dormir, onde sinto sua respiração sussurrar pertinho de mim, onde cheiro seu perfume inconfundível, onde ouço seu coração a bater, onde seu calor esquenta meus rosto, onde sinto segurança. Onde não penso, apenas sinto...
Quero mais o seu ombro.
Quero mais o seu aconchego.
Quero mais aquilo que passou e aquilo que talvez nunca mais virá.
Em determinado dia, me deparei com a seguinte expressão: DEPRESSÃO PÓS-ERASMUS. Fiquei atônita e preocupada com a possibilidade dela realmente existir. Naquele momento ainda não era hora de pensar nisso, afinal eu estava começando meu Erasmus e o tal pós-Erasmus se daria dali a alguns meses. Porém, mesmo não devendo pensar nela, ela me acompanhava internamente e já me fazia sentir medo, pois eu estava vivendo um momento tão sonhado e que estava sendo maravilhoso, era óbvio que o término disto me provocaria mudanças e sentimentos desconhecidos (ou nem tanto).
Explicando melhor... Sair do interior de Vera Cruz, uma cidadezinha no interior do Rio Grande do Sul (que por si só já é considerado longe pra caramba do restante do Brasil) para uma cidade capital, Lisboa, é, no mínimo, uma mudança radical, brusca, porém que a mim não gerou um choque cultural (comum a muitas pessoas), talvez por eu estar desejando tanto esta mudança e esta experiência. Lisboa é uma cidade apaixonante, nem eu mesmo imaginava que teria momentos tão felizes por lá. Sem dúvida alguma, foi a melhor época da minha vida (até agora!) Hoje estou em Santa Cruz do Sul, onde moro e estudo. Uma cidadezinha com suas belezas, mas incomparável à Lisboa. Atenção! Não que eu não goste daqui, não me julgue ingrata ou arrogante, a questão é outra... é coisa de encontros, lugares, paixões, pessoas... Me sentia muito mais "eu". Agora sinto que ainda estou em um período de adaptação. Talvez somente agora, 1 mês depois, estou sentindo a tal DEPRESSÃO PÓS-ERASMUS, onde tudo me lembra e me faz sentir saudade, onde não me sinto pertencente à determinadas posturas e práticas daqui, onde a futilidade é tão mais perceptível, onde a superficialidade predomina as tantas relações... onde o sertanejo universitário insiste em penetrar em meus ouvidos (=P)...
Ah, depressão pós-Erasmus "se faz favor" de sair deste corpo que não te pertence? (hehe)
Enfim, ela existe e só pode ser minimamente compreendida por quem viveu algo parecido. Para outras pessoas, pode parecer um simples "chororô", ou então, um "nada". E aí, um dos males... a incompreensão!
*Escrevi este texto no dia 21 de agosto, 1 mês após voltar de Lisboa, do meu intercâmbio acadêmico. *Eu diria que hoje, 31 de agosto, estou minimamente com o coração mais em paz.
Depois de pouco mais de duas semanas em solo brasileiro, acho que somente agora começa a "cair a ficha" de que Portugal não é logo ali. Até então estava dizendo e pensando: "estou bem", "é estranho, mas me acostumo", "é bom voltar". Agora o que vem na minha cabeça é: "está difícil", "sinto saudades", "quero voltar". Sinto que até então eu estava, de certa forma, anestesiada pelas emoções de reencontros, e que de repente, começo a me sentir perdida e muito diferente dos demais. E este misto de sentimentos presentes neste momento tem me deixado confusa. Afinal, além de todas as mudanças óbvias, há todas aquelas internas, de pensamentos, posicionamentos, gostos, vivências. Há um corpo num velho/novo lugar. Mas há pensamentos do outro lado do oceano. E um coração vagando por aí, necessitado de ser achado.
Reli minha última postagem... Faz quase um mês que não escrevo por aqui... e agora me deparo com um momento de nostalgia... escrever sobre minha despedida de Lisboa. Não tenho a mínima vontade de escrever sobre isso, afinal, tenho certeza que é uma despedida temporária... descobri que meu coração é muito português e certamente volto para cá.
Retorno dia 21 de julho pra o Brasil. Mais exatamente, para Vera Cruz, no Rio Grande do Sul. Foram 10 meses intensamente vividos... com muitas descobertas e aprendizagens. Um misto de sentimentos, recordações, saudades... agregados à muitas alegrias e momentos especiais. Sei que por muito tempo relembrarei com muita intensidade tudo o que vivi aqui... com muitas saudades e lágrimas nos olhos...
E se você perguntar do que sentirei saudades (mais especificamente), prepare-se para ouvir muitas coisas: ISPA, Toca do Cachorrão, samba, bacalhau, praias, café, pastel de nata, metro, imperial, euro, miradouros, Alfama, Bairro Alto, amigos, amores, paixões, Europa, segurança, educação, respeito, individualidade, eu!
Eu espero reencontrar tudo isso novamente... principalmente os amigos conquistados neste período. Amigos não apenas portugueses, como de todo mundo... e muuuuitos brasileiros!
Já estava mais do que na hora de relatar um pouquinho deste lugar mágico, a partir do que eu sei e do que eu vejo.
Alfama é um dos bairros típicos mais antigos de Lisboa. Com ruazinhas estreitas, longas escadarias, construções características, conservadas, e resistentes ao terremoto de 1755, que praticamente devastou Lisboa, era uma zona onde moravam muitos pescadores, afinal, ela fica à beira do Tejo.
É um ponto turísticos, onde vê-se as casas com azulejos e flores na janela, miradouros que dão à vista para o Tejo, tascas com as comidas típicas e petiscos diversos, casas de fados, igrejas, Castelo de São Jorge, o Eléctrico 28 a passar, entre outros "sítios" escondidos em meio àquelas ruelas.
O que me encanta é a simplicidade.
Como diria Caio Fernando Abreu:
"Coisa simples é lindo. E existe muito pouco."
Muito mais do que o olhar turístico, passar pela Alfama e reparar na simplicidade da vida que se leva ali é muito mais encantador: as senhoras gritando, os velhos jogando carta na praça, o cheiro de sardinha, a cor do azulejo, as cuecas e calcinhas na sacada, os vidros quebrados, os grafites nas paredes, as lojas antigas, modernas e alternativas, as ladeiras e as escadas, as crianças jogando bola, o barulho do Eléctrico, o banco no meio da praça, as viúvas de preto, o fado ao longe, o cheiro da vizinhança, os nomes engraçados das ruas.
Amália Rodrigues já cantava:
"Na Alfama toda a gente
Traz o céu no coração
É feliz por natureza
Ninguém pede mais riqueza
Que saúde, amor e pão!"
E em junho, na festa dos santos populares que, em Lisboa, homenageia Santo Antônio, o padroeiro desta capital, Alfama fica ainda mais linda enfeitada com bandeirolas coloridas e manjericos e cheirando a sardinha.
Se vier à Lisboa, não esqueça de se perder por Alfama!
"Ela gostava de estar com ele, ele gostava de estar com ela. Isso era tudo.
Dormiam juntos, no sonho, porque era bom para um e para outro estarem assim juntos, naquele outro espaço.
Não vinha nada de fora, nem ninguém.
Deitada nua no ombro também nu dele, não havia fatos. Dormiam juntos, apenas.
Isso era limpo e nítido no sonho que ela sonhou aquela noite.
Deitada no ombro dele, ela via seu rosto muito próximo.
Esse era o sonho, nada mais. (...)
Talvez ele tivesse passado um dos braços em torno da cintura dela, quem sabe ela houvesse deitado uma das mãos sobre o ombro dele, erguendo os dedos até que tocassem no lóculo de sua orelha. Em todos os dias que se seguiram à noite daquele sonho, e foram muitos, honestamente não saberia localizar outros detalhes.
Pois enquanto dormia, naquela noite, tudo era só e apenasmente isso: dormiam juntos."
(Caio Fernando Abreu)
Apenasmente para registrar e relembrar o que me marcou nestes dias que passaram.
Ainda não comecei a contagem regressiva do meu retorno ao Brasil, mas antes de escrever este post fui obrigada a olhar o calendário. 51 dias! Em 51 dias me despeço de Lisboa, de Portugal, da Europa... me despeço de um período único, marcante, inesquecível, inexplicável e incomparável. Só eu sei o quanto fui e sou feliz aqui... mas vou na certeza que eu volto.
Epa... calma Letícia! Ainda não é hora de despedidas...
Esta pequena introdução, que já me encheu os olhos de lágrimas, foi apenas para situar as postagens que virão a seguir. Decidi escrever um pouco sobre minhas SURPRESAS EM LISBOA... já que foram tantas e que explicam um pouco do amor que sinto por este lugar.
Eu diria que foi um encontro de almas!
O meu primeiro texto sobre estas surpresas fala sobre:
Encontros ao acaso?
São poucas as vezes que eu saio à rua e não encontro alguém conhecido.
Isto me surpreende. Por quê?
Sempre pensei que na capital de um estado ou país isso fosse quase impossível de acontecer. No entanto, Lisboa é isso mesmo... é a capital de Portugal, mas uma pequena capital... Todo o distrito até é grande, mais ou menos 2 500 000 habitantes... mas o concelho de Lisboa tem em torno de 600 000 habitantes. Pequena Lisboa! Por isso até entendo este fato de encontrar pessoas conhecidas em todo o canto... e isso que moro aqui a apenas 8 meses.
Nos miradouros, no Bairro Alto, em uma ruazinha qualquer, no bar, no autocarro...
Eu acho isso fantástico... sair de casa sozinha e encontrar pessoas no caminho. E então eu penso: Como é bom conhecer pessoas! Como eu gosto de conhecer pessoas! Eu quero conhecer mais pessoas! E logo percebo que conheço pessoas de todo o mundo... e que legal seria se eu saísse pelo mundo e em cada lugar que fosse, encontrasse alguém conhecido! E por que não?
Porém... eu digo que nem sempre isso é tão bom assim! Aconteceu de conhecer pessoas que não merecem fazer parte da minha vida. Aconteceu de esbarrar com alguém que eu não queria mais ver. Aconteceu de eu conhecer pessoas que falam de coisas que eu preferia não saber. Aconteceu de eu ter que estar com alguém irritante e dispensável apenas por educação. Aconteceu de eu ter que presenciar atitudes que me magoaram, simplesmente por eu estar na hora e no lugar errados. Aconteceu... acontece... e continuará acontecendo, afinal sobre estas coisas não temos controle.
O título deste texto é uma pergunta. Um pergunta de resposta pessoal... e que minha é: NÃO, NÃO SÃO ENCONTROS AO ACASO. Eu não acredito que as coisas aconteçam por acaso, que eu conheço alguém por acaso, que eu sofro e sou feliz por acaso, que eu encontro alguém por acaso. Concordo com o grande Freud, que já dizia que nada acontece por acaso.
E por que nos encontramos? Cada um sabe o porquê... e às vezes é só o tempo que nos revela as reais motivações e explicações dos nossos encontros.
"Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra.Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha, e não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a prova de que as pessoas não se encontram por acaso."
(Charles Chaplin)
Queridos que fazem parte dos meus caminhos em Lisboa.
E numa noite com amigos, eu me lamentava que em breve estaria indo embora de Lisboa.
E continuava a falar que não era isso que eu queria...
E que eu sabia o quanto minha readaptação seria difícil...
E eis que minha amiga italiana Lorena Cicerale, lança, no melhor dos improvisos, aquelas palavras sábias que te tocam e te fazem pensar:
"Viver pensando no futuro, gera ansiedade...
Viver relembrando o passado, gera saudade...
Mas viver aproveitando o presente, isso traz felicidade."
A partir daquele momento pensei que já estava mais do que na hora de parar de pensar na minha volta e antecipar sentimentos que nem eu mesma sei se irei sentir.
Agora é o presente, é o tempo de felicidade. E o que eu mais quero é viver intensamente cada dia neste lugar maravilhoso, como um verdadeiro presente de Deus e fruto dos meus esforços.
A saudade e a ansiedade estão presentes, claro! Mas já não penso neles com a mesma frequência de antes. E nada como o que já dizia Antoine de Saint-Exupéry:
"Viva o hoje,
pois o ontem já se foi
e o amanhã talvez não venha."
Então é isso... sinto que meus dias estão cada vez mais belos.
Sinto que há muito por vir.
Sinto uma vontade tão grande de viver, de reviver, de ser feliz, de fazer as pessoas felizes.
Sinto que cada pessoa que passou por minha vida até aqui foi essencial e me deixou algo, por mínimo que seja, pois as pessoas me tocam... sempre... tocam minha alma e meu coração.
E sinto que aqui recuperei e reanimei grandes sonhos e desejos meus... redescobri a minha psicologia e aprendi Psicologia.
Sinto que só aprendi... aliás, não só! Também ensinei...
E com tantos sentimentos e sentidos, sei que mudei.
E assim é a vida....
Passado, presente, futuro...
Lembranças, mudanças, esperanças.
(em algum lugar da Alfama, que guarda a beleza em suas ruas, paredes, janelas, pinturas, cores, cheiros e amores)
Uma das coisas que eu mais gosto em Lisboa são os miradouros.
Ainda não conheço todos, mas aqueles que eu conheço são suficientes para defini-los como o melhor lugar para passar bons momentos.
Bons momentos de reflexão, de cabelos ao vento, de admiração da natureza, de olhar ao longe e ver um castelo, ou o Tejo, ou casinhas, ou tudo aquilo que seus olhos permitirem ver.
Se eu pudesse, todos os dias dedicaria alguns momentos à algum miradouro.
Na Wikipédia, encontrei uma lista dos miradouros de Lisboa. Em vermelho, são os que eu conheço até agora:
Miradouro da Graça
Miradouro da Rocha do Conde de Óbidos
Miradouro da Senhora do Monte
Miradouro das Portas do Sol
Miradouro de Santa Luzia
Miradouro de Santa Catarina
Miradouro de Santo Estêvão
Miradouro de São Pedro de Alcântara
Miradouro do Castelo de São Jorge
Miradouro do Torel
Miradouro dos Moinhos de Santana
Miradouro dos Montes Claros
Parque Eduardo VII
Miradouro do Monte Agudo
Miradouro do Cais das Colunas
Nos próximos meses vou conhecer os outros, certamente. E aconselho a toda a pessoa que vier a Lisboa, não perder de conhecê-los.
E esses lugares me permitem momentos que eu mais gosto... pois sou fascinada pelas simples coisas...
...os músicos com seus instrumentos, cantando e alegrando.
...os malabaristas e artistas.
...os turistas, suas poses, suas línguas, suas alegrias e fotografias.
...os pintores, suas tintas e seus retratos.
...o Eléctrico 28 no seu devagar andar.
...o barulho e o frio do vento que balança meus cabelos e desfaz qualquer penteado.
...as folhas secas do outono, os galhos do inverno e as flores coloridas da primavera.
...as casinhas da Alfama, com suas varandas, janelas, e lençóis estendidos.
...o Rio Tejo, "por onde se vai ao mundo."
...as pessoas desconhecidas que sorriem.
...os pensamentos soltos que não se permitem prender.
...os desejos e vontades que surgem no ímpeto do momento.
...as companhias que comigo estão, seja qual for.
...e tudo mais que o imprevisível permite acontecer e viver.
"As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido."